O Brasil Invisível: estudo revela brechas para diálogo em meio à polarização
A More in Common acaba de lançar a pesquisa “O Brasil Invisível”. O estudo, baseado em 10 mil entrevistas, combina métodos qualitativos e quantitativos com técnicas de clusterização, apresentando a sociedade brasileira em seis segmentos sociais: Progressistas Militantes, Esquerda Tradicional, Desengajados, Cautelosos, Patriotas Indignados e Conservadores Tradicionais. O mapeamento ajuda a compreender diferentes perfis de valores e visões de mundo no país e contribui para explicar a dinâmica da polarização política no Brasil.
No Rio de Janeiro, durante o evento de lançamento realizado na cidade, Ana Carolina Lourenço, diretora programática do ICCI, participou de um painel e avaliou que o estudo ajuda a pensar no que caracteriza uma sociedade coesa, em contraste com o cenário de polarização. Por exemplo, a pesquisa indica que, em maior ou menor grau, todos os segmentos demonstram desconfiança em relação ao sistema político, o que representa um desafio significativo, já que a construção da coesão social passa pela política e por sua capacidade organizativa. Ao mesmo tempo, os dados apontam que traçar caminhos que envolvam revisitar bases culturais e valores pode ajudar a reconectar a democracia à vida cotidiana e favorecer conversas públicas mais persuasivas, capazes de fortalecer vínculos sociais e promover confiança.
Pedro Doria (Meio), Carol Lourenço (ICCI), Pablo Ortellado e Helena Vieira (More in Common)
Com dados inéditos sobre guerras culturais, confiança em instituições, integridade eleitoral, consumo de mídia, educação e universidades, religião e trabalho, o estudo indica que, nos últimos anos, o debate político brasileiro migrou do campo econômico para o moral. Esse movimento posiciona a disputa simbólica por valores como um dos principais eixos da política nacional. O levantamento aponta ainda que o componente emocional tem sido central para o conflito político. Quando as pessoas alinham sua identidade política com fatores como religião, classe e partido, tendem a enxergar o outro lado como uma ameaça à própria existência.
Apesar das tensões, os dados revelam que grande parte da população está disposta a dialogar sobre propostas que melhorem aspectos essenciais da vida cotidiana, como saúde, emprego, segurança e educação. Entre os achados, 75% dos brasileiros afirmam que têm mais em comum do que diferenças; 90% dizem sentir orgulho de ser brasileiro; e 90% defendem que os partidos deveriam trabalhar juntos para resolver problemas concretos.
Os desafios são significativos, mas, ao identificar brechas de diálogo e pontos de convergência, a pesquisa da More in Common oferece instrumentos para avançar na construção de um Brasil mais democrático e mais coeso.